Já faz muitos e muitos anos que eu escrevo. Embora a minha história com a escrita não seja assunto para hoje, basta dizer que, como alguns podem lembrar da primeira publicação, eu já tentava a sorte com as palavras em outro blog lá pelo final de 2010. Não apenas isso, mas também concebi uma ou duas histórias que a minha inexperiência nunca me permitiu concluir (destino comum da maioria das que criei até hoje), mas que foram muitíssimo beneficiadas pela imaginação fértil e irrestrita da qual qualquer criança de dez anos pode desfrutar. Sem pressão e sem preocupações, tanto literárias quanto cotidianas, minhas mãos pueris eram livres como animais silvestres, e o lápis voava e voava pelas páginas sem fim, falando sobre personagens e lugares que pareciam cada vez maiores e mais interessantes. É claro que, hoje em dia, a qualidade do que tenho escrito é incomparavelmente melhor; há cuidado com o vocábulo, com a construção frasal e, se eu quiser me fingir de escritor sério, diria que também há planejamento — ou pelo menos a sua versão mais rudimentar possível, a primeira categoria logo acima do aleatório. Com isso, posso concluir que todos esses anos, todas as tentativas e esforços foram essenciais para que as ideias melhorassem, para que as frases se polissem e, mais importante que todo o resto, para que eu fosse capaz de discernir que partes estavam boas, quais necessitavam de retoque, e quais não serviam de jeito nenhum. Foi uma longa, porém perceptível evolução. E mesmo que ela ainda esteja acontecendo, pois nunca acaba, sinto-me orgulhoso e feliz com o que ponho para fora.
O propósito deste prólogo é introduzir e enfatizar a importância da prática e, mais especificamente, do erro, em qualquer área criativa. É conhecimento que se constrói puramente com experiência; não há teoria suficiente que o prepare por completo para isso. É possível aprender, em pouco tempo, sobre estruturas literárias, seus gêneros, jeitos formais e informais de usar o português, as palavras, os sinais de pontuação, e todos esses são aspectos importantes do escrever. Mas inegavelmente a prática constante e teimosa é o que confere ao escritor — ao artista — o seu tato; a sua intuição criativa, o instinto para o que funciona e o que precisa ser refeito, o refinamento do seu gosto subjetivo do que lhe agrada como mestre de sua própria habilidade. Digo isso porque me vejo agora interessado em adquirir uma nova habilidade, um novo poder. E preciso aceitar a inevitável mediocridade que vem com os primeiros passos.